quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O tamanho do medo


100 nanômetros — ou 100 bilionésimos de metro. Esse é o tamanho do vírus responsável pelo inesperado surto da gripe A (H1N1), a tão famosa gripe do porquinho. Um inimigo invisível e minúsculo, mas ao mesmo tempo onipresente e letal, capaz de colocar a população mundial — e os órgãos do governo — em estado de pânico. Para se ter uma ideia disso, no dia 11 de junho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou o nível máximo de alerta contra a gripe, transformando-a na primeira pandemia global do século XXI. O que antes era apenas “medida de precaução” contra o alastramento do problema, agora se tornava uma verdadeira histeria coletiva.

Academias, clubes e cinemas, outrora apinhados de gente, pareciam estar abandonados nas semanas que se seguiram. Escolas e universidades suspenderam as atividades. Algumas até adiaram o reinício das aulas. Para piorar ainda mais o clima de insegurança, as manchetes dos jornais insistiam no relato das vidas “ceifadas pelo vírus” e no drama dos que perderam seus familiares ou amigos. A cada morte confirmada, mais um banco vazio lá fora. E, naturalmente, mais uma máscara cirúrgica vendida ou um Tamiflu® receitado.

De fato, o medo de ser contaminado pelo vírus H1N1, transmissor da gripe A, promoveu uma verdadeira corrida às farmácias e aos postos de saúde. Hospitais lotados, alguns alarmes falsos, filas intermináveis por atendimento. O álcool em gel, usado como antisséptico, desapareceu das prateleiras e das distribuidoras e foi o principal produto vendido nos últimos meses. Por que tanto frenesi?

Obviamente, alguém sempre lucra com isso tudo. Indústrias farmacêuticas, fabricantes de produtos de limpeza, hospitais e até mesmo a imprensa — sem dúvida, uma aliada na prevenção da doença, mas também responsável pelo alarmismo que, perniciosamente, gera desinformação. O interesse comercial, em tempos de crise, é evidente. Crises movimentam a economia.

Outros comemoram. Yeda, Sarney e seus apaniguados que o digam. Com a nova gripe, muitos assuntos acabam desprezados — ou silenciados — pela mídia. A ampla abordagem do tema contagiou as redações. Só pode ser o espírito do porco. Are baba!

Mas esse maldito vírus também infectou, na sua versão eletrônica, o Dr. Google. Basta digitar “gripe suína” ou “gripe A”. Somando-se os resultados das duas pesquisas, encontramos mais de 42.600.000 referências ao termo no site de busca. Impressionante, não? Essa neurose é mesmo assustadora.

Primeiro foi a gripe do frango, em 2004. Agora, a bola da vez está com a gripe suína. Só muda o nome do bicho. Eu não me deixo intimidar pelo poder “altamente destrutivo” dessa nova pandemia. Pelo contrário, procuro boicotá-la. Igorance is bliss, alguém já disse. O ser humano, na maioria das vezes, só consegue lidar com aquilo que vê. Quando se trata de uma ameaça impalpável como a do vírus H1N1, o medo cria feições monstruosas.

No início, quando as pessoas não sabiam a real dimensão do problema, a comoção era compreensível. Depois de uma enxurrada de notícias a respeito do assunto, porém, é estupidez insistir nessa neura. Nem tudo está fora de controle. Talvez as pessoas desconheçam o tamanho do seu temor. A começar pelo nome da gripe.