quarta-feira, 3 de março de 2010

Terroristas musicais prontos para atacar galáxias sonoras


O sucesso do RedHead Outdoors mostra como a internet pode ser uma parceira eficiente na promoção de bandas independentes.


Depois de um ano de muito trabalho, propaganda e inspiração, a dupla de música eletrônica RedHead Outdoors acaba de estrear seu primeiro álbum, que leva o nome da banda. O lançamento do CD rolou no Joe’s Pub Rock no dia 18 de fevereiro, em Tramandaí, onde Jai (vocal, guitarra e sintetizador) e Juli (baixo sintetizado e vocal) — ao lado do inseparável Dave (o laptop que assume bateria e percussão) — iniciaram a carreira musical. Produzido de maneira independente, o disco RedHead Outdoors conta com 13 faixas cantadas em inglês que misturam baterias eletrônicas, guitarras distorcidas, vocais robóticos e sons de fliperama.

Originais e dançantes, as canções falam sobre nerds que invadem sistemas (24 per 7), mulheres assassinas (Car Queen Killers), esquizofrênicos que enxergam fantasmas roxos (Purple Ghost) e zumbis tecnológicos (We Are Zombies). “Todas elas refletem meus sentimentos e devaneios. Purple Ghost, por exemplo, foi criada quando eu estava tendo uma crise extrema de pânico”, revela João Antônio Teixeira Junior (Jai), que assina todas as composições. “Tanto é que a música causa uma sensação de paranoia. Ela é gritada, as notas são desordenadas e o sintetizador é mais sombrio.”

Fruto de uma brincadeira entre quatro amigos, o RedHead Outdoors começou no final de 2008 com o nome de Colored Cell. Depois de enfrentar a saída de dois componentes, o grupo se consolidou como um duo. Em pouco tempo, Jai e Juli divulgariam o primeiro single, I Don’t Know Why, que hoje soma mais de 42 mil execuções no MySpace da banda. Tamanho foi o sucesso que o hit chamou a atenção da dupla de powerpop sueca Smålldisco, que elaborou um remix da canção para o disco de estreia.

Foi graças à internet, aliás, que os gaúchos do RedHead Outdoors tiveram a chance de cruzar fronteiras e conquistar públicos de outros estados e países. Por meio do MySpace e de outras redes sociais, o som deles passou por São Paulo e Curitiba, deu as caras pela Suécia e pela Nova Zelândia e chegou até o México, onde curiosamente se concentra boa parte dos fãs. “Passamos a maior parte do nosso tempo grudados no computador, tentando espalhar ao máximo a nossa música”, conta Juliana Koetz (Juli).

Antes de ser uma concorrente capaz de aniquilar as vendas do disco, a web é uma aliada na divulgação do trabalho do casal. “Não acredito que a disponibilidade gratuita das nossas músicas possa prejudicar o CD. Aqueles que realmente quiserem nos prestigiar — e também conhecer o nosso repertório na íntegra — vão comprar o álbum, que oferece melhor qualidade de áudio, o que é inviável na internet”, diz o vocalista.

O RedHead Outdoors já se apresentou em algumas praias do litoral, como Imbé e Atlântida, mas espera receber convites para tocar em outros locais. Para agradar os puristas, o grupo não esquece a “pegada mais real” ao executar o set list. “Tocamos praticamente tudo ao vivo, sem playback. O tom mais roqueiro fica por conta da guitarra, que tem uma presença inegável nos shows”, explica Jai.

Enquanto a crítica especializada tenta chegar a um consenso sobre a classificação musical do RedHead Outdoors, o duo define seu estilo como “electro trash indie” — aquele tipo de som eletrônico que agrega efeitos sonoros característicos dos videogames antigos. Exemplos claros (e talvez mais conhecidos) do gênero estão em canções como Crimewave e Alice Practice, da dupla canadense Crystal Castles. Além da influência dos jogos, a banda tramandaiense confessa ter buscado inspiração em gente como Tommy Sparks, We Have Band, Simian Mobile Disco e Flamingo Crash.

As referências gringas, porém, não saltam apenas ao ouvido; elas são visíveis nas roupas de Jai e Juli. O visual new wave da dupla — que não dispensa óculos Wayfarer neon e sneakers megacoloridos — lembra os looks vibrantes e descolados dos integrantes do trio californiano Hyper Crush. “Nós também incorporamos alguns elementos do universo cyberpunk. Usamos cabelo moicano e temos em Billy Idol nosso modelo de irreverência”, declaram.

Daqui para frente, a meta da banda é lançar um videoclipe e mergulhar no próximo projeto musical para 2010. “Mas o que realmente queremos para o futuro são as pessoas dançando ao ritmo da nossa música”, sonha a dupla. Tradução do espírito do tempo, o som energético do RedHead Outdoors atende aos anseios da geração contemporânea e prova que nem só de reggae vive o litoral.


FIQUE LIGADO

Gravado e mixado no UFO Audio Studio, em Capão da Canoa, o CD custa 15 reais e está disponível para compra através do e-mail redheadoutdoorsstuff@gmail.com ou pelo site do MercadoLivre.