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Estou sem palavras. Tanto é que nem ao menos sei como começar este texto. Pois acabo de voltar do restaurante onde jantei com ninguém menos do que Mauricio de Sousa, o criador da Turma da Mônica. É até mesmo engraçado escrever o nome dele aqui. Nunca, em toda a minha vida, pensei que estaria jantando com o autor das histórias que tanto me fascinaram na infância. Os gibis eram meus companheiros. Guardo-os todos até hoje. Tomei gosto pela leitura graças a eles. Foram os quadrinhos que me abriram as portas para os livros, mais densos e intricados. Posso afirmar, sem sombra de dúvida, que boa parte da minha formação intelectual e moral veio da Turma. Sem ela, talvez, eu não teria criado o hábito de ler. De maneira que não veria graça nenhuma
Antes do jantar (o que não constava dos meus planos), Mauricio me recebeu carinhosamente no hotel onde estava hospedado, em Sapiranga, para uma breve entrevista. Ele revelou o segredo do sucesso da Turminha e falou sobre as novas experimentações com a Turma Jovem. Meu fascínio por estar diante de um dos cartunistas mais famosos do Brasil me fez perder a noção do tempo. Felizmente meu nervosismo inicial foi cedendo espaço a uma tranquilidade que fez da entrevista uma conversa informal entre dois amigos.
O pai da Mônica, do Cebolinha e de toda a Patota (como era conhecida a Turma nos anos 70) é uma pessoa extremamente cordial. Fala de mansinho, não perde o foco e surpreende com as respostas. Ao contrário do que muitos devem pensar, Mauricio é acessível. Tem notoriedade, mas não deixa de sorrir e atender a cada um de seus fãs — da criançada até os quarentões saudosistas.
Confesso que descolei o encontro com Mauricio por pura coincidência cósmica. Havia passado a semana inteira
Fui correndo até o Parque do Imigrante, que sedia a Feira até o fim da tarde de hoje. Não seria fácil. Centenas de crianças e adultos amontoavam-se para ouvir Mauricio de Sousa falar. Eram 14h35min. Havia muitos obstáculos a superar. Além disso, eu teria de encontrar a assessoria do cartunista para chegar até ele. “A coletiva foi hoje de manhã”, disse-me uma das organizadoras do evento. “Eu sei”, menti. “Mas gostaria de marcar uma entrevista exclusiva para a Rádio Unisinos.” Meu professor Sérgio Endler que me perdoe, mas seria difícil convencer a cara feia da mulher se eu dissesse que estava cumprindo uma pauta para a disciplina de Radiojornalismo. Dizer que era estudante do curso não iria me ajudar. Mais uma vez, o truque. O mesmo que funcionou para a reportagem anterior. Só que, dessa vez, eu estava lá apenas para conseguir uma sonora para ilustrar meu boletim radiofônico. Não precisaria mais do que 5 minutos de áudio.
Consegui entrar na sala de autógrafos. Para minha surpresa, fui entrevistado pelo Jornal NH, que fazia a cobertura da Feira do Livro. Flashes aqui, sorrisinhos ali, tumulto, um entra-e-sai de pessoas. O cartunista autografou alguns raros e antigos exemplares da Turma da Mônica que eu trouxera. (Confesso que premeditei a cena antes de sair de casa.) Minha entrevista teria de esperar, a fila de autógrafos era longa. Mas tudo bem: já estava com o telefone do assessor de Mauricio
“De quanto tempo você precisa?”, perguntou-me o assessor, quando finalmente falamos ao telefone. “Não mais do que 10 ou 15 minutos”, prometi. Eis que às 20h30min esperava Mauricio na recepção do Hotel das Rosas, conforme combinado.
A promessa não foi cumprida — não por falta de palavra do repórter, mas porque o entrevistado soltou o verbo (para a alegria de todos nós). O que estava programado para durar pouco tempo acabou se estendendo por mais de três deliciosas horas, mais da metade delas passadas dentro de uma pizzaria, a convite do próprio Mauricio. Durante o jantar, o cartunista revelou seus novos projetos, além de ter recordado as memórias da infância e do pai, Antônio. (Não tenho dúvidas, agora, de que a comida é um grande estímulo à conversa.)
O essencial vocês já sabem. E saberão com detalhes quando o boletim e a reportagem ficarem prontos. Também prometo transcrever, na íntegra, a entrevista para o deleite dos fãs da Turma da Mônica. As revelações de Mauricio vão encantar e surpreender os leitores!
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É... Quem diria. Não é sempre que pessoas famosas resolvem aparecer em nossa cidade. E com muito menos frequência elas nos convidam para jantar. Mauricio de Sousa é uma delas. Já alimentava grande admiração por ele e por suas histórias quando eu ainda era um garotinho. Hoje, tendo-o conhecido pessoalmente, essa admiração só aumenta. Afinal, ele criou um universo que vem encantando gerações há mais de 50 anos. Uma proeza e tanto. Esse é Mauricio de Sousa. O mesmo cara que estava sentado ao meu lado na mesa do restaurante.