quinta-feira, 30 de julho de 2009

Muito espaço para pouco conteúdo


Creio não ser um blogueiro de verdade. Nos últimos dias, me dei conta de que não tenho publicado mais nada aqui há mais de um mês. O psicólogo americano Burrhus Frederic Skinner, propositor do behaviorismo radical, costumava dizer que se você realmente pretende se tornar um bom escritor, precisa praticar a escrita diariamente. Ele acreditava que escrever é como qualquer outro skill: quanto mais o praticamos, mais habilidosos nos tornamos.

Sinceramente (e para a alegria da literatura), não pretendo me tornar um escritor. Longe disso. Sequer possuo talento — ou disposição — para tal. Gosto, isto sim, de tomar nota do que penso e sinto. Em cadernos empoeirados, em pequenos blocos de notas esquecidos na gaveta, em rascunhos e guardanapos espalhados pelo quarto. Ou aqui mesmo, no desconhecido Caçadores de Falavras. A maior parte do que até hoje já escrevi serviu de exercício terapêutico; meus textos, na realidade, estão mais para um manual de autoajuda do que para crônica ou artigo de opinião. Aliás, não sei dar opinião. Tenho medo de me expor, por escrito, a respeito de determinados assuntos. Falo, mas não escrevo.

Eis que chego ao ponto nevrálgico do meu pensamento: sinto, embora alguns digam que não, que este blog é mais um espaço para se escrever besteiras. Por isso não o divulgo. O nobelizado escritor José Saramago, não faz muito, se pronunciou a respeito dos ditos diários virtuais. Em entrevista ao jornal argentino El Clarín, afirmou que com o crescimento do número de blogs “está se escrevendo mais, embora pior”. Algum motivo para comemorar?

Sejamos francos. A gente não entende nada de coisa alguma. Ainda mais na juventude. O que fazemos é nos pavonear por aí, regurgitando saberes mastigados, repisados, interpretados. Reflexão própria? Nem pensar. Para impressionar, basta digitar [Ctrl C + Ctrl V]. Os blogs estão recheados disso. De baboseira sem sentido. De textos inúteis. De ruminações. Lixo (nem um pouco) criativo. As pessoas parecem não se preocupar com a qualidade do que escrevem. Então por que escrever?

Com toda essa história de internet, o que resta são fragmentos. E, neste sentido, a Rede é a colcha de retalhos que abarca toda sorte de absurdos: ela é muito útil, sem dúvida, mas não nos fornece conteúdo confiável e bem fundamentado, em profundidade — exatamente aquilo que, não raro, consta dos livros. Nas malhas virtuais, porém, o conhecimento raso, as experiências irreais. Nos blogs também.

As pessoas se sentem mais livres para escrever hoje em dia e, infelizmente, não é de se esperar que a maioria delas tenha boas ideias para publicar, em blogs ou não. Certamente faltam bons escritores, mas faltam também bons leitores. (Paulo Coelho, com todo o seu sucesso, que o diga.)

Então você poderia me perguntar: qual é, portanto, a finalidade desse blog, considerando-se que seu proprietário nem pretende conquistar o público leitor? (Pergunta interna.) Não seria melhor descobrir o que é? Trata-se, talvez, de um diário secreto e inconstante, embora paradoxalmente amparado no princípio do semper renovandus. Um blog “inacabado porque lhe falta a resposta. Resposta essa que espero que alguém no mundo ma dê”, já disse Clarice. Enquanto a bendita não vem, permaneço repleto de dúvidas. E continuo a escrever. Apesar do conteúdo.

Um comentário:

  1. Música para meus ouvidos: tua fala e tua escrita, fluídas, ricas. És escritor por excelência - tu escreves! Tens o que dizer e dispões de um leque gigante para fazê-lo.

    Conforme os anos forem incrementando dígitos às datas, assim será o reconhecimento desse mar de talento. Na hora certa, quando maduros formos.

    Até lá, risquemos, dividamos!
    Encantemo-nos!

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