Livro mostra que o texto em revista pode — e deve — flertar com a literatura, mas sem jamais perder o caráter informativo que norteia o fazer jornalístico.
O livro prova que o estilo magazine não tem espaço só nas revistas. Nos cadernos culturais de Zero Hora, assim como nos suplementos dominicais da Folha de S.Paulo, por exemplo, é perfeitamente possível deparar com um texto mais solto e criativo, livre das amarras impostas pelo lead e pela hard news. Vilas Boas tece um paralelo entre as “gramáticas próprias” do jornal diário (informativo) e da revista semanal (interpretativa).
O autor também recupera o histórico do New Journalism, gênero expoente na imprensa americana na década de 60. É o que se pode chamar de jornalismo literário, uma vertente que enxerga — e narra — a realidade a partir de uma perspectiva mais subjetiva: a observação participante do repórter. Mas Vilas Boas faz as devidas distinções entre as linguagens de uma reportagem e de um romance: “Um texto jornalístico deve se confortar nos limites do verificável. A suprarrealidade não interessa ao jornalismo”, escreve.
Ao longo da obra, Vilas Boas analisa o perfil de revistas aclamadas pelo público, como as extintas Realidade, Manchete e O Cruzeiro — que, através de suas grandes reportagens, consagraram o gênero magazine no Brasil. O terceiro capítulo traz excertos de matérias publicadas pela Veja e pela IstoÉ, herdeiras da tradição iniciada décadas atrás. Por meio de exemplos, detalha sugestões e salienta nuances do texto impresso, mostrando ao leitor outras possibilidades de escrita, em geral pouco abordadas nos cursos universitários.
Realizada na Unisinos no último dia
Eliane, assim como o autor de O estilo magazine, é crítica de um jornalismo robótico, que engendra “aplicadores de aspas em série”. Vilas Boas segue seu pensamento. Prega a elegância, a criatividade, a sedução. Pudera. Ele é co-fundador da Academia Brasileira de Jornalismo Literário (ABJL), em atividade desde dezembro de 2004.
O livro não encerra a discussão em torno do estilo magazine; pelo contrário, amplia-a. Enquanto isso, revistas como Piauí e Caros Amigos apostam nessa fórmula, há tempos esquecida pelo pragmatismo que tomou conta das redações brasileiras nas últimas décadas.
Escrito numa linguagem clara e didática, o texto de Sergio Vilas Boas dialoga com o leitor. Nem por isso a obra perde sua consistência acadêmica, sendo uma verdadeira lição para estudantes e pesqui-sadores da área de comunicação.
Que delícia! Deve ser gostoso de ler mesmo. Estou cansada desse ranço acadêmico que parece mofar os livros da faculdade. Viva a vida como ela realmente é: lá fora, longe dos inexpugnáveis muros universitários.
ResponderExcluir