terça-feira, 2 de junho de 2009

Silencio, no hay banda!


Eu lutei para sair da cama. Não queria deixar meu ninho quente e envolvente, que parecia engolfar minha alma. Mas levantei. Eram 7h15min e o sol lá fora já dava tímidos sinais de vida. Aqui dentro, tudo escuro. Meu corpo estava lânguido, minha cabeça girava num torvelinho desajustado, repleto de pensamentos negativos. Nada parecia fazer sentido; irritava-me com as pessoas e sua felicidade aparente. Desejava não ser visto. Preferia ser ignorado e esquecido. Alimentava a sensação de ocupar um espaço desnecessário.

Ao me olhar no espelho naquela manhã, tive vontade de chorar. Não possuía forças para tornar meu rosto mais apreciável e menos disforme. Me cansava. Entrar debaixo do chuveiro e lavar cada pedaço meu exigia forças descomunais de mim. Me repulsava sentir a água rolando, insistente. Queria deitar, apenas deitar, e jamais acordar. Mas nem mesmo no universo onírico encontrava um seguro refúgio: meus sonhos eram demasiado densos e difusos.

No fundo, nada me despertava uma ânsia de viver. A simples ideia de me arrumar para o trabalho, por exemplo, tomava todas as minhas energias. Não suportava mais sorrir para os alunos, não sentia mais prazer em dar aula. Detestava ter de ir à faculdade todas as noites, odiava ter de encontrar aquela gente falsamente realizada. Além disso, angustiava-me o fato de estar preso a uma vida regrada demais, rotineira demais, previsível demais. Desejava não ser o exemplo. Não pretendia ser requisitado, não queria ser impelido a mentir que a vida vai bem, obrigado!, não queria mais. No fim das contas, acordar e viver diariamente me exigia tanto que, ao voltar para casa, me sentia imprestável. Tinha preguiça de falar, de articular sons pela boca; preferia calar e sofrer em silêncio.

Não aguentava mais ser alguém que eu odiava. Queria sangrar, apenas sangrar.

 

Hoje? Não mais.

2 comentários:

  1. Lindo o teu texto, tem alma!
    Que bom que hoje não mais...

    Este jornalista vai longe, tenho absoluta certeza!
    Bisous, mon ami!

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  2. Entendo. É como chorar às 5:17 da manhã.
    Embora a individualidade seja fundamental, precisemos de tempo, silêncio (externo ou não), entre outras regalias que merecemos, ter o teu abraço em momentos de engasgo, de incompreensão e reconstrução é Di-vi-no!

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