domingo, 12 de abril de 2009

Violência democrática e sem distinções


A violência doméstica não escolhe raça, idade, nível social, econômico ou cultural e não tem hora, dia ou local para acontecer. Pode ocorrer na calada da noite, entre quatro paredes, ou então em plena luz do dia, na frente da família. Ela é, como costumam dizer os especialistas, a mais democrática entre as agressões sofridas pelas mulheres. “Reflete, na verdade, a triste realidade dos desajustes de homens que não possuem infraestrutura emocional para compreender a afetividade nata da mulher que exige carinho no trato”, escreve a ex-delegada Teresinha de Carvalho, de Campinas, em artigo publicado pelo site Kplus.

Das 1.156 vítimas atendidas pelo Centro Jacobina entre setembro de 2006 e março de 2009, há desde registros de mulheres analfabetas até episódios de universitárias. Boa parte delas tem até dois filhos e professa a fé católica. Na maioria esmagadora dos casos, o agressor é o próprio companheiro. Ângela lembra que não só namorados e maridos são os algozes. “Filhos, netos e até mesmo chefes podem praticar atos de violência contra a mulher”, adverte.

O drama, como se vê, não faz distinção entre casebres e palacetes — a única diferença é que, quanto mais alto o nível socioeconômico da vítima, mais os gritos são abafados. Afinal, como é possível entender tamanha violência? Os pretextos que levam homens a perpetrar covardias são os mais banais: ciúmes, insatisfação com os trabalhos domésticos ou simplesmente vontade de agredir. Não importa. Muitas agressões são também estimuladas pelo consumo de álcool e pelo uso de drogas ilícitas. “Grande parte dos casos atendidos decorre de maridos que estavam alcoolizados quando atacaram suas companheiras”, diz Sandra.
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Os fatores socioculturais tampouco ficam de fora. “A história de vida do agressor precisa ser levada em conta. Os homens tendem a repetir o padrão paterno”, afirma a psicóloga Érica Kern Lopes. Se o homem foi criado em um contexto no qual o pai mostrava atitudes machistas, então aumentam suas chances de ter um comportamento violento no futuro.
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“Ele reproduz o que viveu e se sente no direito de violar”, acrescenta Ângela. De certa forma, o homem se vê legitimado para agredir sem culpa. Muitas vezes nem percebe que a violência passou a ser usada por ele como forma de comunicação. Em vez de falar, bate porque foi assim que aprendeu a resolver conflitos. “Há falta de diálogo. A palavra não tem mais valor”, sentencia a assistente social.
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Os tempos mudaram
No início dos anos 2000, cerca de 70% das agressões domésticas eram julgadas nos Tribunais de Pequenas Causas. A punição, em geral, era uma multa ou a doação de cestas básicas. A Lei Maria da Penha endureceu o combate ao crime. Hoje é possível ingressar com pedido de medidas protetivas de urgência, como afastar o agressor do lar e até mesmo exigir que ele mantenha distância dela e dos filhos. A nova lei permite, inclusive, que o autor das agressões seja preso em flagrante ou tenha a prisão preventiva decretada. Com o aumento da tecnologia, também mudou o perfil do agressor. “Agora, ele ameaça publicar fotos obscenas da parceira na internet”, diz a delegada Nadine Anflor.
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(Continua amanhã.)

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