sábado, 10 de outubro de 2009

Fumantes, a escória da sociedade


Cresci numa família de fumantes — pai, mãe e avós sempre alimentaram o hábito, glamoroso nos tempos em que eram jovens e Audrey Hepburn segurava sua clássica cigarrilha no filme Bonequinha de Luxo. Meu pai já chegou a consumir 4 maços de cigarro. Por dia. Poderia ter seguido o mesmo caminho, não tivesse eu nascido sob a égide da “geração saúde”, que nega o tabaco e o álcool em busca do bem-estar e da mente sã.

Ainda bem. Pesquisas científicas comprovam que o tabagismo é a principal causa de morte “evitável” (alguma não o é?) no mundo. Estimativas apontam que o problema atinge 16% dos brasileiros — dos quais meus familiares fazem parte. Mas o pior nem é isso.

Mais grave do que dar uma tragada é tratar o fumante como se fosse leproso, portador de uma doença ultracontagiosa. Algo como “o pus que infecta o muco que se acumula nos fungos que se alimentam do lodo no fundo do lago, diria Michael O’Neal, personagem de Dermot Mulroney em O Casamento do Meu Melhor Amigo. Não é de surpreender que a Assembleia Legislativa gaúcha tenha aprovado, na última terça-feira (6), um projeto de lei que proíbe o uso de cigarros, charutos e derivados em ambientes fechados em todo o Estado.

No Rio, estabeleceram multas antifumo que chegam a R$ 30 mil. No Paraná, até o fumódromo — único reduto de congregação dos tabagistas e, quiçá, sua última esperança — será extinto. Quanto absurdo.

Durante a minha infância, lembro de ter sido ativista na luta inglória contra o fumo, estimulada pelas discussões que fazíamos na escola. Elaborávamos cartazes e os distribuíamos pela escola, divulgando os males causados pelo cigarro. À medida que fui crescendo e entendendo o significado do livre arbítrio, deixei de exercer o papel de Dom Quixote lutando contra gigantes imaginários. Afinal, quem fuma é ciente do mal que causa ao seu corpo e, se insiste em fazê-lo, é porque sente prazer. Recusar-lhe esse direito mínimo é como impedir um casal gay de se beijar.

Confesso que a fumaça me incomoda. Mas não é ela que vai assinar, mais cedo, meu atestado de óbito. Acreditar que o cerco contra o cigarro, da forma como vem sendo conduzido, pode alterar a rotina dos usuários ou — o que é mais difícil — reverter o costume de fumar é pura tolice. Não é um simples anúncio, uma campanha estridente ou uma lei politicamente correta que farão com que os usuários larguem o vício. Implicância tem limite.

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