quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Uma discussão sem fim


É inegável que a violência no trânsito constitui um grave problema para a sociedade brasileira. Calcula-se que, anualmente, morrem cerca de 30 mil pessoas nas estradas do país — o equivalente à população total do município de Portão, localizado na Região Metropolitana de Porto Alegre. Isto significa que, a cada hora, há pelo menos 3 vítimas fatais no trânsito, sem contar as ocorrências extraoficiais que certamente incrementam esse dado assustador.

Pode parecer apenas estatística ou não representar muito para o leitor, mas tal problema figura como a principal causa de mortalidade entre homens na faixa etária de 15 a 44 anos. Tais indivíduos constituem uma parcela economicamente ativa da população. Sem eles, o setor produtivo nacional perde sua mão de obra e a economia do país sai prejudicada.

Para se ter uma dimensão da questão, um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), feito em 2007, mostrou que só os acidentes nas rodovias custam à economia brasileira 22 bilhões de reais por ano, gastos em hospitalizações, indenizações e danos materiais.

Embora não exista consenso entre os especialistas a respeito das causas dos acidentes, eles são unânimes ao apontar que o consumo de álcool, a velocidade excessiva e a imperícia dos novos condutores são os fatores que pesam no momento em que dois veículos se chocam. Como pano de fundo, está a certeza da impunidade.

É fácil perceber o quanto essa questão tem passado ao largo das políticas públicas e da preocupação da sociedade civil. A insolência dos motoristas e a leniência das autoridades, que não raro fazem vista grossa à imprudência nas estradas, contribuem ainda mais para o agravamento desse quadro.

Sem dúvida muita coisa já tem sido feita — iniciativas como o projeto Vida Urgente ou a nova campanha porto-alegrense de educação para o trânsito são prova disso. No entanto, a alta letalidade do trânsito brasileiro justifica uma ação mais incisiva do Estado no tocante à aplicação efetiva da legislação.

Não há como indicar receitas, mas é possível apontar dois caminhos. Em primeiro lugar, é necessário aumentar a fiscalização contra o consumo de bebidas alcoólicas em bares e restaurantes. Em segundo plano, é fundamental recolocar o tema em foco por meio de debates nos diversos espaços sociais, a fim de sensibilizar o público.

Para que essa triste realidade seja revertida, urge tratar o fenômeno da violência no trânsito em sua complexidade, pois enquanto ele não for transformado em objeto de atenção de toda a sociedade — do cidadão comum às autoridades — não avançaremos no propósito de preveni-lo.

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